Quando lançamos uma visão panorâmica pela cidade de São Paulo (sobretudo do 30º andar de um desses edifícios antigos) há que se fazer um enorme esforço para pensar simplesmente que “falta espaço”, diante da muralha de concreto que a cidade exibe.
A falta de espaço como discurso ideológico muito reproduzido, pode levar à perigosa redução do sentido da cidade. Essas antigas criações surgiram historicamente de uma necessidade para a morada dos homens e mulheres. Como podem elas, abrigo histórico por excelência, tornarem-se hoje em dia inviáveis aos próprios indivíduos? Que processos políticos e econômicos justificam tornar este espaço repelente a tanta gente?
Não terá a metrópole paulista uma enorme dívida histórica com aqueles que a ergueram? Como explicar gerações inteiras 'herdeiras do cimento' viverem hoje à margem do concreto?
São Paulo produziu suas ruínas, em pleno coração da cidade: são inúmeros edifícios silenciosos e inertes, que à espera de valorização apodrecem acinzentando a paisagem já cinza. Estas ruínas clamam por um uso social. Neste contexto surgem os sem-teto, produto histórico da falta de política habitacional. Todos aqueles indivíduos e famílias que não são abrigados pela cidade que estão inseridos; são contraditoriamente, habitantes que não conseguem habitar.
Sua luta é pois para permanecerem e pertencerem na cidade que os afugenta todo o tempo. Na luta pela cidade, resgatam a cidadania e interrompem o ciclo econômico perverso que produz ruínas. Resgatam também o sentido e a direção da História, questionando-a e transformando-se em sujeitos. E por fim, reivindicando o centro, interrompem a reprodução diária da periferia, empurrada cada vez para mais longe.
(*Leda Velloso Buonfiglio é geógrafa)
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